Danuzio Neto • 23/03/2020
23/03/2020Em 17 de novembro de 2019, na China, a primeira pessoa do mundo foi infectada pelo novo coronavírus. Um homem de 55 anos, com identidade ainda desconhecida, que contraiu a doença de forma que ainda está sendo investigada.
Esse, pelo menos, é o cenário com que os pesquisadores chineses trabalham até aqui.
Ele comeu um morcego? Pisou em fezes de um pangolim? Ou simplesmente entrou em contato com uma comunidade isolada que, há muito tempo, já carrega o vírus entre seus membros?
Essa resposta, que pode salvar milhões de vidas, ainda é desconhecida e talvez esteja no corpo desse homem que foi contaminado em novembro de 2019. Talvez nele esteja a resposta que pode deter a pandemia que assusta políticos, cidadãos em geral e todas as economias ao redor do globo.
Nenhum país lucra com a pandemia em andamento. Não existe jogada na bolsa de valores que fez a China dar um golpe de mestre. Não existe vírus criado em laboratório. Nenhum país vai lucrar com essa história toda. Talvez alguém perca menos que os outros, mas ninguém vai ganhar.
Procurado, o paciente zero anda incógnito no meio dos 50 milhões de habitantes da província de Hubei. Ou, se for de outra nacionalidade que não a chinesa, ande incógnito, sem ter a mínima ideia de que está sendo procurando, entre as oito bilhões de pessoas que habitam a terra – quem sabe no frio dos países nórdicos ou no calor de uma savana africana. Ninguém sabe.
Uma certeza compartilhada pela comunidade científica é que esse homem iniciou uma cadeia de contaminação que atingiu milhares de pessoas antes que essa nova doença fosse identificada como o que ela é: uma nova doença.
De acordo com o que se conhece da Covid-19, milhares já estavam infectados quando em dezembro de 2019, um mês depois do primeiro humano ser contaminado, médicos de Wuhan, capital de Hubei, começassem a perceber que algo de estranho acontecia com pacientes que apresentavam o que eles chamavam de um novo tipo de pneumonia.
Até então, o novo coronavírus ainda não era o novo coronavírus, era “apenas” um novo tipo de pneumonia que matava pessoas numa velocidade que assustava os médicos da região. O mundo estava à beira do abismo, com o corpo inteiro pendente pra fora, e não havia ninguém que o alertasse.
2019 se encerra, de Kiribati à Samoa Americana, à meia noite, o mundo assiste à chegada do Ano Novo com esperanças de que em 2020 tudo será melhor. Algumas cidades, pela primeira vez, preocupadas com o bem-estar dos bichinhos de estimação, comemoram os 366 dias vindouros com fogos de artifício que não fazem barulho. Em países ricos, projetos espaciais captam recursos públicos e privados. E a guerra comercial entre Estados Unidos e China parece ser o maior dos nossos pesadelos.
As pessoas vão e vêm livremente. Abraçam-se, beijam-se. Visitam umas às outras. São felizes e não sabem.
Em Wuhan, capital da província de Hubei, milhares de infectados assintomáticos levam suas vidas normalmente, numa cidade de 11 milhões de habitantes que possui um aeroporto que atende milhões de passageiros de todo o mundo. Enquanto isso, nos hospitais, dezenas de pessoas agonizam e morrem pela “nova pneumonia”.
No dia 31 de dezembro, na retrospectiva de 2019, em nenhum dos cinco continentes, em nenhum jornal do mundo, alguém falou sobre o homem de 55 anos contaminado pelo novo coronavírus em 17 de novembro. E a doença se espalha pelas abarrotadas e cosmopolitas ruas chinesas.
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Danuzio Neto
Professor de Geopolítica, Atualidades, Ética, Geografia e História para concursos. É Auditor Fiscal da Secretaria da Fazenda de São Paulo, tendo exercido também os cargos de Técnico Judiciário do TRT da 16ª Região e Escriturário do Banco do Brasil. É formado em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão.
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