Marcelo Soares • 23/05/2022
23/05/2022Fala pessoal!
Professor Marcelo Soares na área para mais um bate-papo.
Antes de começarmos, quero te deixar um convite muito especial: participe gratuitamente do Administração faixa preta, maior canal de questões comentadas de administração do Telegram. Já possuímos mais de 500 questões. Você tem acesso a comentários completos em áudio e videoaulas exclusivas. Asseguro que seu nível em Administração vai subir de faixa.
Pois bem. Feito o convite, vamos ao que interessa. Hoje, conversaremos sobre o planejamento por meio de cenários.
Esse tópico é um terror para os candidatos, pois ele reúne três características que dificultam o estudo: cai pouco, quando cai vem de uma forma aprofundada (principalmente no caso da falecida ESAF) e a cobrança é feita de forma esparsa (espalhada). Para a parte teórica não ficar cheia de teorias que caíram só uma única vez em um único concurso, enxuguei a teoria e estendi os comentários das questões, ok? Vamos pra cima!
Boa parte do que sabemos hoje sobre gestão estratégica teve origem nos círculos militares. Peça a qualquer acadêmico de Administração que indique um livro clássico de estratégia e, provavelmente, ouvirá como resposta “A Arte da Guerra” de Sun Tzu, um livro escrito 400 anos antes de Cristo (tem noção o quanto isso é antigo??!!).
Vejamos um trechinho desse livro para aquecer nossos estudos de planejamento por meio de cenários:
A Arte da Guerra
A garantia de nos tornarmos invencíveis está em nossas próprias mãos. Tornar o inimigo vulnerável só depende dele próprio. Conhecer os meios que asseguram a vitória não significa obtê-la. Assim, os hábeis generais sabiam primeiramente o que deviam temer ou esperar, e avançavam ou recuavam, lutavam ou se entrincheiravam, segundo o conhecimento que tinham, tanto a respeito das próprias tropas quanto das do inimigo. Acreditando-se superiores, não hesitavam em tomar a iniciativa. Acreditando-se inferiores, batiam em retirada e ficavam na defensiva. (A arte da Guerra, Sun Tzu, p.24)
“Marcelo, o que isso tem a ver com planejamento por meio de cenários??”
Tudo. Quando estamos trabalhando com cenários estamos atuando como os hábeis generais de Sun Tzu. Antes de entrar no campo de batalha, procuramos primeiramente descobrir o que precisamos temer e o que podemos aproveitar. Eu costumo brincar que planejamento por meio de cenários é o planejamento do “e se…”.
“E se acontecer isso…o que eu faço?” “E se acontecer aquilo…o que eu faço?”
O “isso” ou “aquilo” são os chamados eventos. Vamos entender melhor: basicamente as organizações possuem uma rotina regular. Tudo ocorre de forma relativamente previsível até que…pam! Acontece um fenômeno inesperado e repentino que impacta diretamente na trajetória da organização. Esses fenômenos são os eventos.
(Fazendo uma analogia com nossa vida, seria o nascimento de um filho, a nomeação em um concurso, ganhar um grande prêmio na loteria…vai tudo seguindo uma certa trajetória até que muda tudo ☺ ).
Eventos: fenômenos categóricos que podem ou não ocorrer em determinado momento no futuro. Ocasionam impacto importante no comportamento do sistema de forma repentina e inesperada.
Outro conceito importante nesse assunto é o de tendência. Vez ou outra ouvimos notícias como: “a expectativa de vida tende a aumentar em 5 anos até 2030”, ou ainda, “existe uma tendência de queda do uso de telefones fixos, desde 2009”. Isso significa que, baseado em uma série histórica de dados, existem variações que estão provocam mudanças contínuas em determinado fenômeno (expectativa de vida ou uso de telefone fixo, nos nossos exemplos).
Tendência: séries métricas que indicam variações no longo prazo que estão provocando mudanças contínuas no sistema. A elaboração de cenários deve considerar tanto os eventos como as tendências. Falando nisso agora já conseguimos conceituar cenário. Cada questão coloca um conceito diferente, vejamos alguns exemplos:
Então, basicamente, você imagina “e se acontecer isso” e vai traçando estratégias para lidar com aquela situação.
Depois pensa “e se acontecer aquilo” e descreve novas estratégias para lidar com esse outro cenário. É meio intuitivo, mas não custa reforçar que cenários são situações futuras.
De acordo com Schwartz (2000), o planejamento de cenários foi amplamente utilizado pela Força Aérea Americana (FAA) na tentativa de prever ações do inimigo e construir estratégias alternativas de combate no início do século XX. A abordagem inicial desse tipo de planejamento foi essencialmente quantitativa. Utilizavam-se diferentes modelos para calcular a probabilidade de ocorrência de cada cenário e, posteriormente, elaboravam-se planejamentos específicos. Ao final da década de 1970 em virtude do trabalho de Pierre Wack (Case da Shell), o planejamento de cenários passou a se fundamentar não apenas em probabilidades, mas também em um pensamento causal qualitativo(para fins de concursos públicos, o método de planejamento por meio de cenários mais importante é qualitativo: Método Delphi).
O Auditor da Receita Federal em formação
Vamos pegar um caso de alguém que, assim como você, está estudando para um cargo público. Vamos imaginar que para Auditor da Receita Federal para exemplificar:
Cenário 1: Mantém a disciplina até a publicação do edital e depois de pagar o respectivo preço em horas de estudo, passa no concurso para Auditor da Receita Federal.
Cenário 2: Fica num vai e vem de estudos e é surpreendido com a publicação do edital da Receita. Não consegue ser aprovado e desiste de estudar para “grandes concursos”, abandona o sonho de ser auditor e é aprovado em outros concursos.
Cenário 3: Fica num vai e vem de estudos e é surpreendido com a publicação do edital da Receita. Não consegue ser aprovado e continua estudando até ser Auditor da Receita Federal (concurso se faz até passar).
Cenário 4: Fica num vai e vem de estudos e é surpreendido com a publicação do edital da Receita. Não consegue ser aprovado e culpa tudo e todos pela reprovação. Desiste dos concursos.
A cada dia, esse alguém vai tomar uma série de decisões que o farão se aproximar ou distanciar de um desses cenários.
Como a decisão de fazer maratona no Netflix antes de bater a meta de estudos aproxima/distância de cada um desses cenários? Ou como aqueles 15 minutinhos extras revisando a aula podem fazer toda a diferença para responder aquela questão discursiva que caiu na segunda fase?
Eu particularmente gostava de me imaginar como um auditor em formação. Sabia que um dia seria auditor não importava quando tempo levasse eu estava disposto a pagar o preço. Assim, os estudos eram apenas parte da minha formação para exerce bem minhas futuras responsabilidades. Imagine a sensação de não conseguir responder um contribuinte sobre uma dúvida básica? Ou de não ser capaz de dar conta do trabalho mesmo? Tem que se preparar. E quando acontecer (porque vai acontecer), será tão bom quanto imagina ou até mesmo melhor. ☺
Abordagens para elaboração de cenários
Existem duas abordagens para se prever cenários: abordagem projetiva e abordagem prospectiva. O que diferencia uma abordagem da outra são, basicamente, dois aspectos: quantidade de cenários elaborados e modelo de geração de cenários. Vejamos as características de cada uma dessas abordagens.
Abordagem projetiva: utiliza dados atuais para projetar o futuro por meio de modelos deterministas e quantitativos. Parte do pressuposto de que o futuro repetirá o passado e, assim, considera apenas fatores e variáveis já conhecidos e estabelece um futuro único e certo.
Abordagem prospectiva: utiliza uma visão holística (global, busca compreender a totalidade dos fenômenos).
Considera variações qualitativas, quantificáveis ou não, subjetivas ou não, conhecidas ou não. Pressupõe um futuro múltiplo e incerto (mudanças são imprevisíveis e incertas). Trata-se de uma análise intencional, em que se pode utilizar variáveis de opinião (julgamentos, pareceres, probabilidades subjetivas, etc) por meio de métodos do tipo análise estrutural, Delphi, impactos cruzados, etc.
A consistência entre tendências e eventos correlatos, embora parcialmente sujeita a análises históricas, é essencialmente subjetiva, o que exige um processo de revisão relativamente intenso dos cenários para evitar erros mais grosseiros, e também conferir maior adequação dos cenários aos estudos estratégicos.
No exemplo que dei sobre o alguém que está estudando para o concurso de Auditor da Receita Federal, eu utilizei uma abordagem projetiva ou prospectiva?
Resposta: Abordagem prospectiva!!! Eu estabeleci vários cenários possíveis, adotei um método qualitativo (experiência e convivência por vários anos com pessoas que se preparam para concursos públicos) e estabeleci os cenários como resultados diretos de uma ação presente. Tranquilo?
Métodos de elaboração de cenários
Existem vários métodos de elaboração de cenários (Lógica intuitiva, Escola de Tendências probabilísticas e Escola Francesa Prospectiva, Future Mapping, dentre outros). Para concursos, com a saída da ESAF, esse tópico perdeu grande parte da importância, vejamos os pontos principais.
Cenários Otimista, Intermediário e Pessimista
Uma forma simples de utilizar o planejamento baseado em cenário é levantar todas as informações disponíveis e elaborar três tipos de cenários básicos: cenário otimista, cenário intermediário e cenário pessimista. Com os cenários elaborados, a organização traça planos de ação para cada um desses cenários e implanta medidas que conduzam a empresa em direção ao cenário otimista.
Escola Francesa Prospectiva
Iniciada a partir dos trabalhos de Gastos Berger na década de 1950 e ampliada por Michael Godet, a Escola Francesa propõe ferramentas que auxiliem a visão de longo prazo dos estrategistas e procedimentos para conciliar intuição e razão. Para Godet, o futuro é a razão de ser do presente e por isso é necessário um longo trabalho de identificação de variáveis-chave no futuro desejado para que seus alicerces sejam construídos no presente.
Escola da lógica intuitiva
Essa escola também é conhecida como Escola Shell. Em 1969 Pierre Wack, pesquisador na Royal Dutch Shell, coordenou o projeto Horizon Planning Iniciative, que tinha como objetivo calcular o preço do petróleo até 1985 (16 anos depois). À época, a disponibilidade dos Estados Unidos quanto a esses recursos estava se exaurindo e havia indícios de um aumento de demanda.
No estudo Wack elaborou ramificações coerentes com as tendências e eventos que estavam ocorrendo. Ao final do trabalho a pesquisa elaborou dois cenários, sendo que um deles se concretizou em 1973 com o choque do petróleo provado pela OPEP em 1973. Em virtude do trabalho de Wack, a Shell antecipou-se ao choque do petróleo e quando os preços dispararam conseguiu alavancar sua posição no mercado.
Escola de tendências probabilísticas
Escola desenvolvida na Rand Corporation e Futures Group e que utiliza uma técnica denominada de análise de impactos cruzados. Nessa técnica realiza-se uma projeção a partir de variáveis-chave para, em seguida, analisar os impactos provocados nessa projeção por grupos de evento.
Os eventos normalmente são agrupados em pares, sendo consideradas as probabilidades e as relações causais entre eles. Apesar de essencialmente quantitativa, essa escola busca a opinião de especialistas para elaboração das probabilidades subjetivas e para retirar possíveis distorções dos modelos de simulação gerados.
Vamos fixar com algumas questões?
QUADRIX – CREF20 –Assistente Administrativo – 2019)
A rede de integração entre empresas é uma abordagem de estruturação mais moderna e direcionada para resultados. Um bom exemplo disso é o de um sistema de transportes integrado, que permite a utilização de um bilhete específico para cada tipo de usuário.
COMENTÁRIO:
Essa questão precisa de uma contextualização para entendê-la.
O bilhete de sistema de transporte integrado é uma forma de pagamento disponível para o usuário de transporte público que possibilita que por meio de um único bilhete ele utilize serviços ofertados por diferentes
concessionárias (Ônibus, metrô e trem).
Existem vários tipos de bilhete conforme a necessidade do usuário. Alguns permitem acesso apenas a alguns modais (apenas ônibus, apenas metrô ou apenas ônibus e metrô) e outros a todos os modais (ônibus, metrô e trem).
O ponto é que, de fato, esse é um exemplo de rede e aliança firmado entre diferentes empresas para fornecer um serviço de melhor qualidade para os usuários. Em vez de o usuário gerenciar três formas de pagamento (uma para cada serviço), adotou-se uma forma única e padronizada de pagamento.
Gabarito: CERTO
UFMT – TJ/MT – 2016)
Levando em conta a técnica Análise de Cenários utilizada no Planejamento Estratégico empresarial, analise as assertivas.
I – A técnica antecede a década de 1950, usada durante a segunda Guerra Mundial por militares para mitigar os riscos das investidas e execução das ordens de ataque.
II – No final da década de 1970, o planejamento de cenários passou a se fundamentar não apenas em probabilidades, mas em um pensamento causal qualitativo.
III – Durante os anos 1980, as organizações foram desenvolvendo suas metodologias de planejamento de cenários usando técnicas de computador.
IV – Os cenários são utilizados para avaliação da sensibilidade/risco, avaliação e desenvolvimento de estratégia; ajudam a organização a concentrar-se em diferentes ambientes futuros plausíveis.
Estão corretas as afirmativas
a) I, II, III e IV.
b) I, II e III, apenas
c) I e IV, apenas
d) II, III e IV, apenas
COMENTÁRIO:
Todos as afirmações (I, II, III e IV) estão corretas. Selecionei essa questão para que você tivesse uma visão geral da evolução e das origens do planejamento baseado em cenários.
Gabarito: A
Espero que tenha curtido nosso bate-papo de hoje. Se quiser aprofundar seus conhecimentos em Administração, sugiro que conheça nossos cursos.
Além disso, se gosta de material gratuito de Administração, não deixa de conferir nosso canal no Telegram e nosso canal no Youtube (aula toda semana).
Forte Abraço e até o nosso próximo encontro.
Marcelo Soares
Auditor do Estado do Mato Grosso. Graduado em Administração, pós-graduado em Gestão Pública e mestre em Administração (Estratégia e Governança Corporativa). Aprovado e nomeado nos cargos de Auditor do Estado do Mato Grosso, Auditor Fiscal da Receita Municipal de Cuiabá, Auditor Governamental do Piauí, duas vezes para Analista Judiciário - área administrativa (TRF-1ª, TRT-11ª), Administrador da EBCT, Administrador da Secretaria de Cultura do Amazonas, Administrador da Secretaria de Infraestrutura do Amazonas, Agente de Fomento - área administrativa da AFEAM.
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